Em janeiro de 2016 tomei a decisão de nunca mais ter um emprego. Assumi, definitivamente, que cumprir 8 horas diárias de trabalho, horário comercial, gestão de equipe, nada disso era pra mim. Abri mão de salário, férias, 13º salário, estabilidade e vaidade. A partir daí, fui trilhar o caminho que a vida foi me mostrando. Sempre adorei trabalhar. Sou dessas que fica 14h seguidas trabalhando feliz da vida. Penso em trabalho o dia todo. Tenho ideias na cama, antes mesmo de abrir os olhos. É assim que minha mente funciona, sem muita pausa para o descanso.
Quando decidi que nunca mais teria um emprego, mergulhei de cabeça no ato de trabalhar. E fui percebendo que todos os protocolos que cumprimos em um emprego nos afastam do trabalho, da execução. Essas percepções foram me mostrando de onde vinha o meu cansaço, minha insatisfação. Percebi que nos empregos que tive a maior parte do meu tempo não era focado em criar e executar, mas sim em estar à disposição, em me doar para a necessidade do outro, que em muitos casos, não tinha a ver com o trabalho. Percebi a falta de sentido em uma série de coisas que fazemos diariamente, sem nem pensar.
Não tinha mais sentido acordar de manhã, abrir o computador para responder os primeiros emails, cruzar a cidade, para aí me sentar à frente de outro computador, para executar aquilo que eu poderia estar fazendo desde a hora que acordei. Não fazia sentido me reunir presencialmente com pessoas para solucionar questões que a tecnologia já nos ajuda a resolver com mais rapidez, sem tanta presença e troca de energia para algo com pouca importância. Percebi que eu podia trabalhar da praia, da montanha, da minha própria casa, depois de preparar um almoço dos deuses.
É clichê, mas ainda me impressiona como a gente se acostuma. E aqui, vale uma pausa. Esse é um relato bastante pessoal. Para mim, os protocolos de um emprego formal, as relações de trabalho, nada disso faziam mais sentido. Mas essa é a minha percepção, a minha vivência, sendo eu uma profissional de 33 anos, com mais de 10 anos de experiência na área de comunicação. Tem muita gente que se encontra 100% dentro desse ambiente, que é feliz assim. E está tudo bem. E tem muitas profissões que não permitem executar um trabalho fora do ambiente formal e, se você tem uma delas e ama, está tudo mais do que bem também.
Aqui, para mim, está a grande sacada: em janeiro de 2016 decidi me conhecer de verdade e abrir mão de todas as máscaras que me distanciavam do meu propósito. Não voltar ao emprego formal foi um passo em direção ao que me fazia feliz.
Parei de tentar entender o que estava errado nos ambientes de trabalho e me foquei em criar um ambiente que me ajudasse a deixar fluir a minha maneira de contribuir com o mundo, o esforço do meu trabalho. Desse peito aberto saíram coisas lindas e doloridas. Minha vontade de me expressar por meio das flores e plantas, o ato diário de escrever, a paixão por criar projetos. Tudo brotou e ainda está brotando. Esse caminho, que só percorro há um ano e meio, me permitiu criar uma relação de amor e parceria de vida com a mulher que amo, me permitiu conhecer pessoas maravilhosas e colocou na minha vida muita gente na busca por mais propósito também, tornando o meu trabalho diário muito mais rico.
Esse textão reflexivo é o meu jeito de dizer: vá em frente! Se existe em você uma inquietação, não tenha medo de olhar pra ela. Encare, experimente ficar um tempo naquela posição desconfortável e veja como você se sente. O mundo está cheio de pessoas protocolares e, se você deixar de ser mais um, pode ser que ninguém nem perceba, mas vai ser um ato de transformação enorme na sua própria vida.