Sou uma profissional obcecada (uma pessoa obcecada seria mais justo, mas tudo bem). Com pouco mais de dez anos trabalhando com comunicação e há cerca de três anos co-liderando a produção de conteúdo da Casa Lab, percebi que não quero nada menos do que o melhor. O melhor de mim, o melhor dos outros. O melhor que minha empresa pode fazer.
Parece muita coisa — e realmente é — mas é sobre deixar a sua marca em tudo o que você faz, e isso faz sentido quando a gente passa os dias produzindo conteúdo. É muita coisa porque exige doação, exigiu que eu entendesse quem eu sou e exige que eu entenda quem são as pessoas que trabalham comigo todos os dias, o que elas fazem de melhor e o que é o melhor que elas podem fazer. Ou seja: entender os limites, os objetivos e os sonhos de cada um, incluindo os meus.
Quando abri a Casa Lab junto com a Debora Rocha, minha companheira na vida e sócia nos negócios, eu não tinha ideia do quanto isso exigiria de mim. A primeira vez que chamamos outra pessoa para se juntar ao time (que até então era uma dupla), pouco mais de um ano e meio após termos aberto a empresa, percebi que era muito mais do que só trabalhar com mais gente. Percebi que eu precisava saber o que eu realmente queria daquela pessoa?
Eu não tinha essa resposta até bem ~poucas sessões de terapia~ pouco tempo atrás. Antes de saber responder a essa pergunta, precisei entender minha voz, quais eram os meus papéis e como eu somava nesse time. Eu precisei ser eu mesma, ser a melhor versão de mim (e isso passa também pelo fato de eu ser uma mulher-negra-lésbica-e-empresária) para só então oferecer o melhor lugar para que as pessoas pudessem ser a melhor versão delas.
As minhas vivências profissionais (e até pessoais), sempre me colocaram em um lugar de provação. Ter que provar que eu, como mulher negra, era mais do que os estereótipos que recaem sobre mim apenas por eu ser uma mulher negra. Então eu, para conquistar respeito, fui, durante quase dez anos, uma pessoa séria, rígida, fechada, durona no trabalho. Mas essa não era eu na vida pessoal.
Mas eu aprendi que, para permitir que as pessoas sejam as melhores versões de si mesmas, para que elas tenham voz, para que tenham vez, para que coloquem personalidade nas entregas, precisei fazer isso também: ser eu mesma no ambiente de trabalho. E isso inclui ser eu mesma nas reuniões com clientes, nos alinhamentos com o time, no dia a dia. Parece fácil, mas posso dizer que foi um longo trabalho.
Eu tive que aprender que eu sou uma só. E que eu sou engraçada, sou exigente, adoro meme, mas não abro mão de um trabalho bem feito. E isso não tem a ver com vestir uma máscara. Tem a ver com conquistar respeito, admiração por ser quem sou e com deixar que as pessoas me vejam para que elas se mostrem também. Tem a ver com ser a melhor versão de mim para que as pessoas sejam as melhores versões de si em um ambiente saudável, alegre, dinâmico e não menos comprometido com as entregas por isso.
Tem sido um longo trabalho, mas não posso dizer que tem sido um voo solo. Minha conselheira para assuntos aleatórios, como brinco com a Debora que ela é para mim muitas vezes, me ajudou muito a entender que esse movimento era importante pra gente conseguir criar uma empresa diversa, com processos diferentes e que fosse livre pra todo mundo ser quem é de verdade. Pra mim, isso resume um pouco do que é ser uma empresa verdadeiramente plural. E quando digo verdadeiramente, quero dizer na prática, todos os dias.