Na escola, participava com a mesma paixão das olimpíadas de química e das oficinas de redação. Quando fui prestar vestibular, não tinha dúvidas de que queria ser jornalista, mas me imaginava médica ou arquiteta e achava que seria feliz nessas profissões também. Quando comecei a trabalhar, passei pelas editorias de música, comportamento, tecnologia, beleza e depois de vários anos migrei do jornalismo para o marketing digital, sempre me adaptando bem a cada mudança.
Por mais que esse poder de adaptação me parecesse algo bom, no fundo eu sempre questionei a minha competência (alô, síndrome do impostor!). Ficava imaginando que gente competente de verdade se torna especialista em algo e é reconhecida e valorizada pela sua especialidade. Claro que a minha capacidade de aprender rápido e de fazer conexões entre as áreas em que já havia atuado pareciam menores do que o meu medo de não ser boa de verdade no que eu estava fazendo.
Quando migrei do jornalismo para o marketing digital, foi bastante natural. Não me questionei muito e não ouvi questionamentos, afinal, é tudo comunicação e estranho é quem não se adaptou a essa ~nova era do jornalismo~. Mas, quando me dei conta de que, num processo que rolou de maneira bem orgânica, eu estava trabalhando em algo totalmente diferente do que eu sempre fiz, foi bem assustador e, devo dizer, libertador.
Ninguém precisa ser uma coisa por vez
A primeira vez que se referiram a mim como florista foi durante a decoração de uma festa de casamento. Eu estava lá, concentrada montando um arranjo quando alguém falou: “Oi, me pediram pra falar com a florista sobre o buquê da noiva”. Levei um baita susto, mas me emocionei ao responder “Pode falar comigo, a florista sou eu”. Foi libertador outrar (vou agradecer eternamente à Natália Garcia por incluir o verbo outrar na minha vida). Mudar de papel, de perspectiva, de atuação, de roupa, de opinião. A gente morre de medo de mudar.
Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo fortemente o TED da escritora e artista Emilie Wapnick, que descreve o tipo de pessoa que ela chama de “multipotencial”, aquela que tem uma coleção de empregos e variados interesses durante a vida.
O que eu senti quando me permiti ser duas ao mesmo tempo foi uma enorme liberdade. Quando você dá mais valor para o sentido que aquilo faz para você do que para o que os outros vão pensar, toda a sua energia vital e criativa se liberta, você sente prazer e confiança em inovar e tudo flui.
Pra quem me pergunta o que o que uma produtora de conteúdo digital tem em comum com um ateliê de plantas e flores, a resposta é: o propósito envolvido nos dois fazeres e a inspiração de mão dupla que a liberdade de criar possibilita.