MUDAMOS. Viver uma pandemia não tem lado bom, mas também não tem como não viver. Então nos últimos meses, tudo o que fizemos foi repensar como continuar existindo. Existir é diferente de sobreviver, e, conscientes do privilégio de poder repensar nossa existência, tanto como indivíduos como grupo e empresa Casa Lab, aproveitamos os meses iniciais de isolamento social para planejarmos as mudanças que gostaríamos de colocar em prática, agora que muito do que vivíamos ou deixou de existir ou não faz sentido mais.

Nesse processo, fizemos um planejamento digno de grandes conflitos. Eu e Luana entendemos, logo no início, que deveríamos desapegar do acompanhamento de produção diária das contas e que, além disso, não adiantava (tentamos e de fato não adiantou) dizer pra nossa galera que iríamos viver dias difíceis e desafiadores, era preciso permitir que eles vivessem o desafio. Foi assim que elegemos as lideranças, as coordenadoras que daquele dia em diante seriam responsáveis pela gestão dos nossos trabalhos.  Assim, no susto, elas se viram cara a cara com a dor do crescimento – e nós também, Luana e eu.

Lideranças postas, partimos numa saga por reorganização. Ferramentas, processos, gestão de projetos no Teamwork, Trello, Google Drive. Entregamos nosso espaço físico, pensamos em como poderíamos contribuir para que o trabalho remoto fosse mais confortável e trabalhamos para que isso acontecesse nos pequenos detalhes que fazem a diferença.

Fizemos e refizemos planilhas financeiras um milhão de vezes, sofremos o luto de enterrar sonhos que estavam quase se realizando, experimentamos a dor de ver que a ascensão que estávamos vivendo como empresa estava comprometida. Tudo rolando enquanto acolhíamos os clientes – todes perplexos pela intensidade da mudança – e mudávamos com eles a rota de muitas estratégias. Março, junho e julho foram meses intensos de renegociações, renascimentos e partidas. Enquanto tudo explodia e renascia, sabíamos que era preciso tirar o foco do que estava morrendo e abrirmos espaço para novas formas de criar, pensar e desenvolver projetos de comunicação nesse novo cenário. Foi assim que MUDAMOS e só criando uma lista para darmos conta da quantidade de mudanças que colocamos para rodar. Se você chegou até aqui, segue o fio:

• Nos últimos meses vivemos um intensivão sobre LGPD, a nova Lei Geral de Proteção de Dados, que deve mudar profundamente a maneira como pensamos comunicação e publicidade dentro do marketing digital. Mais uma vez, em vez de focarmos na dificuldade das mudanças, entendemos que um mundo pautado por fake news precisa mesmo de muita legislação e controle e que, como jornalistas, estamos mais do que preparadas para colocar a produção de conteúdo bem executado no topo de uma estratégia em que o foco passa a ser, de fato, o desejo das pessoas em escolher o que desejam acompanhar. Pode vir LGPD, estamos prontes;
• Uma das grandes mudanças estruturais que fizemos foi entregar nosso espaço físico e começar a traçar uma rota de empresa descentralizada. Depois de traçarmos mil possibilidades de caminhos, Luana e eu decidimos nos mudar para Florianópolis. A cidade é um polo importante de tecnologia, com grandes empresas de marketing digital e uma cultura muito aberta à inovação. Aqui temos também parte da nossa família, sobrinhos, amigos e o que mais pesou na nossa decisão – a oportunidade de viver um estilo de vida muito mais a céu aberto, perto da natureza, com menos excessos;
• Descentralizar a empresa não significou apenas nos mudarmos de cidade. Nós estamos em Floripa, a equipe está em São Paulo e nas novas vagas que abrimos demos preferência por preencher com pessoas de outros estados. Foi assim que contratamos uma Community Manager do Rio de Janeiro e entrevistamos pessoas de muitos lugares do Brasil;
• A decisão de descentralizar a Casa Lab também nos fez repensar sobre como manter a cultura da empresa viva e presente nesse momento de distanciamento. Eu, que não vivo intensamente o dia a dia de produção, mas acompanho todas as entregas e o relacionamento com nossos clientes, tenho a sensação de que nunca estivemos tão unidos como grupo. Nossa sinergia, parceria e arrisco dizer até humanidade afloraram lindamente durante esses processo, mas ainda falta encontrarmos um jeito de darmos vazão aos afetos e ao processo de criação em grupo, que sempre foi um diferencial da Lab;
• Sobre isso, temos uma grande novidade: a partir de 2021 (alô, vacina) nossa sede em Floripa será morada de residências criativas, que há anos eu e Luana tentamos tirar do papel. Nossa empresa surgiu quando resolvemos tirar a cara do computador e colocamos a mão na terra, nos envolvemos com o cuidado com as plantas e isso nos deu força para trazer de volta uma conexão com aquilo que fomenta a nossa criatividade. Queremos trazer nossa turma para viver isso com a gente, em uma casa com gramado, espaço aberto e muito sol;
• Desde que chegamos em Floripa, nos últimos dias de agosto, estamos formatando a residência criativa e colocando as atividades em prática por enquanto apenas entre nós duas, para em breve trazermos convidados. Essa é uma nova fase da Casa Lab que logo falaremos muito por aqui;
• Outra boa novidade é que como não temos mais um espaço físico centralizado, lançamos em novembro um novo site, com o nosso portfólio, nossa metodologia e nossos valores explícitos. Esse é um novo espaço muito importante pra gente, onde também desenvolveremos projetos autorais;
• Por último, uma grande mudança que vivemos foi um entendimento (forçado, admito) de que por mais que a gente planeje e se esforce para seguir pelo caminho escolhido, a força e intensidade daquilo que muda é incontrolável. Para quem nos pergunta se sair de São Paulo (onde imaginamos que tudo acontece) não nos deu medo, se não temos medo de perder clientes, se não achamos que a equipe pode ficar desmotivada, se não estamos abrindo demais o leque, minha resposta é: temos medo de tudo isso aí e de MUITAS outras coisas (você sabe como é ter empresa e pagar impostos no Brasil? Procure saber.). Mas entre paralisar pelo medo ou contribuir com a existência de um mundo mais próximo daquilo que acreditamos, ficamos com a segunda opção e assim, MUDAMOS.