Quem trabalha com comunicação sabe que nós, comunicadores, vivemos em busca de inspiração. Nossos olhos brilham ao saber de um novo curso, um evento com painel estrelado, stories de creators, depoimentos de novos e velhos artistas, empreendedores e escritores. Consumimos inspiração o dia todo, mas o que temos de inspirador dentro de nós? Será que valorizamos tanto quanto aquilo que procuramos no outro?
Até o final de 2017, a Casa Lab se dividia entre dois negócios distintos: nosso hub de conteúdo e ideias criativas para marketing digital e nossa produção de arranjos florais e produtos relacionados ao universo botânico. Os dias eram equilibrados entre horas em frente ao computador e outras tantas com as mãos sujas de terra, em meio a flores e plantas. Do início de 2018 pra cá, não demos conta de fazer as duas coisas. Nos envolvemos em projetos maiores de comunicação, montamos uma equipe (só de mulheres fodas, por sinal), fortalecemos parcerias e passamos a respirar projetos de conteúdo.
No começo, foi um alívio, já estava bem cansada de uma vida dupla tão intensa. Mas depois de um tempo percebi que o trabalho manual fazia uma falta enorme para os meus processos criativos. Essa falta me fez refletir sobre o quanto de inspiração existe dentro de nós e o quanto o fazer manual nos torna mais felizes e interessantes. Felicidade essa que a inspiração que vem do lado de fora, muitas vezes mina, quando leva a gente a um looping maluco de idealização e comparação.
Se conecte com seus (outros) talentos
Conversando outro dia com meu cunhado, que é uma das pessoas mais inspiradoras que eu conheço, ele me disse algumas das suas percepções sobre mim (além de ser inspirador, ele também tira o tarot, lê mapa astral e tem uma aura artística linda) e entre elas estava a de que eu preciso reencontrar o meu fazer manual. Isso me tocou profundamente. Em tempos de tanto medo e repressão como o que estamos vivendo, buscar uma maior conexão com nossos talentos e saberes milenares nos torna mais fortes, autênticas e inspiradas.
Em tempos sombrios, minha dica é: encontrem as bordadeiras, costureiras, fazedoras de arte, jardineiras, cozinheiras, desenhistas, decoradoras, escritoras, miçangueiras que existem dentro de vocês. Acredito profundamente que só essa conexão nos salva todos os dias e que são esses fazeres manuais, tão deliciosos de serem também compartilhados, que nos devolvem o senso de comunidade, de vizinhança, de pertencimento. Mesmo trabalhando todos os dias com projetos e estratégias digitais, o que eu mais quero para os próximos meses é ocupar o mundo com menos inspiração via hashtgs e mais conexão interior. Porque é isso o que me move adiante, dentro e fora das redes.